Lucidez
O mundo está em rota de colisão
Eu sei. Tu não.
Os nossos beijos já não sabem igual
Eu sei. Tu finges que não.
As paredes tremem mas a cama não
Não é discussão dos vizinhos do lado
É a dos vizinhos de quarto
Somos estranhos um para o outro
Eu admito. Tu não.
As beatas acumulam-se no cinzeiro
As garrafas rolam pelo chão
Eu vejo. Tu não.
A tua pele é áspera na minha
Já não cheira como cheirava antes
O perfume está velho e enjoativo
Eu sinto. Tu não.
A beleza de nós é fotografia amarela
Nódoa em toalha branca
Cinzeiro que já não dá lume
Desculpas para ficar à varanda.
Tu ficas. Eu não.
O teu odor é álcool e tabaco.
Tu sabes. Eu finjo que não.
Há um buraco frio no lençóis
Vala que separa os nossos corpos
Não há atracão, só perdição
Lá me encontras de veneno no corpo
Eu aceito. Porque não?
Sentir um pouco do tempo de Sol
Quando chove e há fugas
Em todos os sentidos da palavra
Eu percebo. Tu não.
Ainda bem que somos só nós dois
Nunca quis que fossemos só nós dois
Mas tu nem queres que sejamos dois
Tu mentes. Eu não.
A mesa está suja e posta
Não há comida nos pratos rachados
Mas vinho nos copos baços
Ofereces-me e finjo que bebo
Tu esqueces. Eu não.
Recebo-te na dor da sobriedade
Não tens maior ou menor encanto
És necessidade, não prazer
És pobre luxúria inconsciente
Morte minha, consciente
Mas eu vivo. Tu não.
Frustrado na tentativa de te odiar
Porque ainda te amo. E tu não.
Raquel Martinez Neves
16-Mai-10
1 comments:
suponho que esta seja a continuaçao do post que diz k te apetecia escrever sobre gente bebada;D. se é fizes.te um bom trabalho hehehe. agora a serio. é um bom poema. esta muito fixe (agora na sejas como a minha prof d pt e na me digas que isto na e um texto de opiniao:p)
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