Epifania II


Epifania II


Sente-te possuída pelo aroma quente da poesia

Veneno ácido que corrói o sistema emocional

Numa corrente corrompida de realismo ilusório

Vertido no berço casto de uma mente virgem.

Deixa-te afogar pelas palavras da incompreensão

O grito sufocante de uma revolta indolor e incolor

A incerteza do ar gasto e sujo que respiramos.

A vida é um não à espera de um sim, simples assim

Como afirmar que o céu é azul e as nuvens brancas

Encarnadas as entranhas e o sangue por derramar

Não sei o que mais desejar, senão o fumo da morte

Entranhada na vida como memória esquecida

Porque o tempo a fará constantemente voltar.

Convém sempre saber que se diz o que aqui se lê

E o sentido não importa aos sentidos mas à razão

Somente que não é ela que põe as mãos no mundo

E sente a textura salgada das lágrimas e da dor

E a dura suavidade fina e frágil da fome e da sede.

A história é deixada para que outros a contem

As questões sempre pairam sem resposta no ar

O contentamento é rápido de obter mas efémero

E eternas são as dúvidas tão velhas como a vida

A presença fantasmagórica das miragens do real

Fundidas nas realidades alternativas do ser

Tão privadas e secretas, abstractas e concretas

Como a verdadeira sabedoria sobre todos nós.


Raquel Martinez Neves

22-Fev-11