Justiça



Justiça


Há um arco de corda à saída do Tribunal

Com um estrado de madeira medieval

Escadas de tábuas soltas

E ferrugentos pregos salientes

Há um caminho de pedras ásperas

Manchado de sangue dos pés descalços

E uma árvore para onde se atiram os sapatos

Como enfeites de um pinheiro de Natal

É alta e de tronco escuro quadrangular

Costuma ser guardada por um homem respeitado

A quem todos se dirigem como se fosse Deus

É ele quem dá a autorização

Para que aos ramos sejam lançados os sapatos

Também é ele quem profere as sentenças

Aos outros que pagam a presença do carrasco

Porque à saída do Tribunal há esse caminho

Branco e fatal como a ilusão

É a cegueira do Homem, não a da estátua

Os pratos da balança pesam diferente

Um é sangue e o outro é ouro

E a corda balouça no estrado de madeira

Esperando os inocentes descalços

Que crentes largaram a protecção

Esperança cumprida é esperança morta

O alçapão abre-se e o arco da corda é vermelho

Porque é dessa cor que se pinta a justiça



Raquel Martinez Neves

20-Mai-10

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