Ruína


Ruína


Rasga-me as entranhas

E dá-las a comer ao teu orgulho

Arranca-me o coração pelo peito

E talvez então possas comprovar

Que tem o teu nome escrito nele

Bebe as minhas memórias

E vomita-as como o pecado que são

Insulta-me fria e cruelmente

Atira-me ao chão

Com a força das tuas palavras

Que estas lágrimas não te parem

Que esta dor não te intimide

Apaga somente o teu sofrimento

E, amor, talvez então

Consigas espaço para o perdão



Raquel Martinez Neves

19-Jul-11


(Des)consolação


(Des)consolação



Fecha a porta à chave

Enterra o rosto nas almofadas

Pensa em mim

Sente as memórias na pele

E encontra a saudade

Conhece a distância

Que choram os teus olhos

Não penses em mim

Ouve a minha voz

Vê de novo as fotografias

Sorri mais um vez

O tempo não é inimigo

Pensa em mim

Despe-te lentamente

Imagina as minhas mãos

Suave desejo ardente

Não te quebres à minha frente

Não penses em mim

Limpa essas tuas lágrimas

Cobre-te com o lençol

Adormece comigo e sonha

Em fazer amor ao pôr-do-sol

Pensa em mim

Jamais estarás só

Vivo no teu coração

Deixa fluir as horas, os dias

Há mais no mundo, paixão

Não penses em mim

Em breve estarás aqui

Amanhã estarei ai

Olha-me apenas esta noite

Sabes que te pertenço

Pensa em mim

Inspira o meu cheiro em ti

Abraça-te com força

O fantasma da minha boca

Ainda te beija a face

Não penses em mim

Recorda as promessas

Cada momento de magia

O encaixe corporal perfeito

E os meus lábios nos teus

Pensa em mim

Que esta noite, amor,

Eu também penso em ti


Raquel Martinez Neves

19-Jul-11


Relógio


Relógio


Sinto a inspiração descer profusamente pelo meu ventre

É quente e doce nestas dez últimas horas de espera

O relógio sempre foi meu inimigo

E enquanto as linhas crescem de forma análoga a um poema

A vida gasta-se e tu ainda não estás aqui

Na irregularidade dos sorrisos e das lágrimas

Escrevemos a nossa história

E a poesia não é nada senão palavras de saudade e amor

Escritas sem a ordem da literatura mas com a do coração

Sem rima porque o amor não rima

Sem métrica porque o amor não se mede

Sem estrofes porque o amor não se divide

E sinto a inspiração a desfazer-se lentamente entre os dedos

É vã e ilógica nestes seiscentos últimos minutos de espera

O relógio sempre foi meu inimigo

E enquanto as linhas escasseiam de forma análoga ao tempo

A poesia morre e tu ainda não estás aqui.


Raquel Martinez Neves

14-Jun-11