Nightmare Revisited
O delírio é o mesmo de sempre, prometo
As cores, as luzes, os sons. Esta música
A ilusão é pintada uma e outra vez
Com a palete negra e branca do desespero
Os flashes vêm e vão. Não sei o que vi
A história é sempre a mesma, prometo
Corro, corro, sentada entre as almofadas
Quero, quero, mas as cortinas não abrem
A escuridão é densa como o arco-íris
Mas não há tesouro se encontrarmos o fim
A esperança já não é a mesma, lamento
Continuo a visitar este lugar insensato
Como derrotado no palco do seu fracasso
Em busca de não sei que palavras de consolo
O não é certo e a recusa não é moderada
Sei que não vou continuar para sempre
O vidro do espelho é cada vez mais baço
A fotografia de mim também não é igual
O olhar demora-se na tentativa de ficar
De não cair de novo na letargia do sono
É como uma pequena morte passageira
O medo sim morou sempre aqui, declaro
Mas mais claro é a luz do dia a perder
Cada madrugada comida pela ignorância
Não ver nunca o sol nascer para o mundo
Afundada na sombra inconsciente de mim
Uma noite prolongada no tempo da vida
Ganhando ao dia as horas que ele roubou
Mas frágil, perco sempre a batalha
Cega nas possibilidades do amanhã
O desejo de despertar é eterno, confesso
Tal como inútil a necessidade de adormecer
Perder as estrelas para uma real escuridão
Ceder a paz do silêncio para o vazio deste
Esquecer o que ficou e o que me espera
Para encontrar um sonho que é mentira
E a loucura é bem maior sonhando, garanto
Inchada dos receios e memórias distorcidas
Segreda-me que sonhar não se faz a dormir
Porque este sono é subtil pesadelo
Todas as noites revisitado
Raquel Martinez Neves
28-Jul-10