Uma Família de Luto
A casa está cheia
As vozes ecoam
Uma, duas, três línguas
Dizem palavras iguais
Que se perdem nos ouvidos
E se repetem
Uma e outra vez
A história é a mesma
Sempre, a cada voz
Enquanto houver ouvidos
Ela será contada
E as mesmas lágrimas caem
Por olhos azuis
Verdes e castanhos
O silêncio é proibido
Antes a realidade crua
Que a frieza cortante da memória
Antes ouvir o que aconteceu
Que pensar, na quietude,
No que irá acontecer
Amanhã, e depois, e depois
Como fantasmas com cor
Cruzam os corredores
Não têm que fazer
Não têm o que mais dizer
Na urgência de algo que ocupe
Enche a cabeça errante
Afaste a consciência
Conversas murmuradas
Há palavras que não se pode ouvir
Peso martirizante da verdade
E então desespero de causa
Algo, não importa o quê
Não ajuda a esquecer
Mas ajuda a não pensar
Receio pelo amanhã
Certeza de muitas lágrimas
Terror que enche o coração
Saber que não será sonho
Morte à esperança
De acordar de um pesadelo
É real, dolorosamente real
Nesta casa cheia
Não é menor a saudade
Não é menor a solidão
Nesse abraço apertado
Não são menos as lágrimas
Por vê-las nos outros olhos
É somente maior o amor
Raquel Neves
0 comments:
Post a Comment