Colorir Memórias


Colorir Memórias

Não vou colorir memórias
Pintá-las da cor que não são
Tornar o preto dourado
E apagar a desilusão

Engano de alma
Cai como dominó
Olhar de mentira
Espelho da verdade
Segredo de voz calada
Luzes de fachada

Risos sem graça
Cortam nó na garganta
Palavras tão pensadas
Que no final não valem nada
Correm todos os ouvidos
Deixam esses olhos esquecidos

Não vou colorir memórias
Não foi como devia ser
O preto era preto
Não viu quem não queria ver

Cansada vida
Casada por obrigação
De amor queimado
Sob as labaredas do tempo
Por coração fiel
Por recordações de papel

Branca rosa murcha
Gesto sem significado
Estar por estar
Dançar por dançar
E corpo que grita pára
Ignorância de luz clara

Não vou colorir memórias
Acabaram-se as tintas
Noite a preto e branco
Espero que tu o sintas

Gritar: vê-me
Gritar: ouve-me
Gritar: eu continuo aqui, fala comigo, olha para mim!

Não vou colorir memórias
Mente que mente
Olhos pesados que não vêm cores
Alma que sente
E esconde...

E esconde...
Colorindo memórias

Raquel Neves

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