Esfera Nocturna


Esfera Nocturna


A noite cai vazia

O frio entorpece os dedos

No vibrar dos acordes

A guitarra quebrada

O Inverno por esquecer

E mais tarde recordar

O dia da chuva no rosto

Das poças no chão

Do vento vindo

Quando o chamamos

Melancolia alegre

Sorriso sem sentido

Palavras ao acaso

Fugidas do dicionário

E tu sabes sempre

Onde as encontrar

Corrida contra o tempo

Ele não quer nada de ti

Mais uns passos na areia

Para o mar levar

No crepúsculo da vida

Que cresce sozinha

Planta selvagem

Beleza perdida

De cada vez que se repete

Aquela música

E a história é a mesma

Aqui e na China

Um rapaz e uma rapariga

Paixão prometida

E lágrimas no final

Como chuva de Inverno

Não, como chuva de Verão

Quente coração

E alma que sobrevive

Roda o relógio e vai

Toca o despertador e vens

Fingir de novo

Que és feliz

Antes parecê-lo

Que não sê-lo

Mas antes ainda sê-lo

Do que parecê-lo

E as luzes baixas

Do dia que se esgota

Um baralho de cartas

Sem o ás de espadas

E o rei de copas

Um duque ou outro

Simplesmente

Triste mente

Que escolhe à noite

Esta canção de embaçar

E abraça-se à almofada

Para chorar

Julgando ser segredo

Acreditando no amanhã

No amanhã mudará

Amanhã melhorará

E tudo foi passando

Morto na esperança

De um mundo que se crê

Construir sozinho

Mas que é pó sobre poeira

Lágrimas sobre sangue

Nada sobre nada

Separar uma gota do mar

E um grão de areia da praia

Olhar entre as grades

E não ver os barrotes

Sonhar sem livre

Atando nossos pulsos

De pura e livre vontade

Entre nós

Acorrentados

Entre nós

Na mesma barca para o Céu

Ou para o Inferno

E a mensagem

A mensagem é ser herói

O que quer que signifique

Não fazer cair

Não deixar cair

E subir num raio de Sol

Até à cratera da Lua

Ser criança e ser apaixonado

Andar à chuva e rir

Cantar num dia de frio

E esperar que o duque vá

E o rei de ouros venha

Para compensar o jogo

Eterna parábola da vida

Alegre e divertida

Viver aqui e agora

Ser tudo o que se queria

E aguardar que o amanhecer

Rompa a noite vazia


Raquel Martinez Neves

12-Fev-10

1 A.M.


1 A.M.


By the way

You left me with nothing to say

By the way

I already wrote a poem

Started with by the way

And just by the way

This one doesn’t make any sense

Like the rain in a sunny day

But please don’t tell anyone

I’ll write something better next time

‘Cause I started two times

And two times a erased it

By the way, this sucks

So then no one should read this

And this music is not helping me

I can’t live without you?

I do can live without you

And by the way, sometimes

I ask myself, wouldn’t I be better?

Maybe I’m just disappointed

Because I haven’t that kind of love

That movie romance

But I’m not romantic either

So I don’t know what I’m looking for

I just know that’s more than this

And I’ve missed the ‘by the way’

But who cares?

By the way, nobody

And by the way, I should erase this

But I kept worse things, didn’t I?

Yes, I do, by the way

Alright, it’s over

CUT!

Oh, by the way, being 0:59

It’s not an excuse for the lack of sense

I wish I could write 1 A.M

But the clock was taking too long

By the way, now it’s 1 A.M.

And I guess this will be the title

‘Cause I have already one called

‘By the way’, sort I can tell

I’ll check it later

P.S. This poem really sucks


Raquel Neves

(17-Fev-2010)


P.S.2 - I couldn't find it

P.S.3 - This wasn't the poem I wanted

Gula


Gula

Para preencher o vazio
Do teu corpo agastado
Comes e bebes
E nada te sacia
Tens um buraco no estômago
E a mente em agonia

Não te pesa a consciência
Se te enchem a boca
Entopes-te nesse prazer
De curta duração
E matas a culpa
Na culpa que te consome

Fugaz tentação
Que se esvaía no paladar
Perdes-te pelo doce
Mas és amarga
E salgado é o teu ser
Que não sabe viver

Não tens controlo
Cometes excessos
Nessa efémera euforia
De precária alegria
E só és feliz
Cheio de porcaria

Cobiçoso o teu olhar
Sôfrego o teu ser
Drogado em açúcar
Gordurosa avidez
De quem tudo come
Com insaciável fome

Raquel Neves

Avareza


Avareza

Tu de bolso cheio
Protótipo de humanidade
Quantificada a ouro
És a arrogância
De pensares valer mais
Por possuir mais

Colocas carimbos
De zeros à direita
Desprezas quem tem menos
Invejas quem mais tem
Eterna insatisfação
Louca ambição

Para ti, ávido mesquinho
Um cêntimo é uma fortuna
E este teu tesouro
É preciosos e intocável
E fechas-te para ele
Fechando-o para o mundo

Ninguém pode o que é teu
E queres mais e mais
Limpas as mãos em notas
Olhas-te ao espelho na prata
Mas, pobre sovina,
Nem oferecias lata

A vida para ti é a riqueza
O ar que respiras
Jóias, carros, casas
Império material
Grande demais
Para uma existência mortal

Raquel Neves

UMA e um Quarto



UMA e um Quarto

Entre quatro paredes brancas, sim, continuo assim
Guardando este segredo, temperamento abismal
Só não vê quem não olha...
A hora tarda e é cedo, frio, muito frio
Dói e canso-me da dor, tão cansada!
“Hoje não estou bem. – Sim, já percebi.”
Doente aquele que não quer cura,
Ou o que não pode ser curado?
Só não percebeste a mentira nas palavras cegas
Não estou assim, Sou assim
E a fúria controlada brinca à beira do abismo
Do descontrolo feito em lágrimas tentadoras
Eu, cansada, não me sustenho
Dói tudo de todas as maneiras, suavemente
Quebrada fisicamente, quebrada psicologicamente
Um pouco mais de dor e cacos serei
Lembrança apagada de linhas e linhas e linhas
Memória de uma história, não de uma pessoa
E o Luar é mais brilhante quando reina sozinho
Pérola perdida, não o olhes se não o podes resgatar
Não me olhes, não me queiras, não me encontras...
Um dia vais perceber que estavas enganado
Não se pode compreender o que não tem compreensão
Como amar protótipo de perfeição, essa que imaginas
Não sou eu, quem tu vês não sou eu
Nunca me viste chorar, nunca me viste escrever
Aí sou eu, nua, não nas lágrimas, não nas palavras
No momento, nesse em que nada mais existe
Sensível, egoísta, mortal, ficcional
E no que falta, ilusão, sonhos, alma incompleta
Não vivo aqui, no agora, não, não o faço
E não posso levar ninguém a viver comigo
Esperança caída morta, prematura, e ressuscita?
Sim, às vezes. Tem mais vidas que um gato
Mas não sei, nunca sei, tento acreditar
Como acredito no Sol amanhã
Mas o céu anda carregado e chove muito. Faz frio,
Muito frio, e pensar custa, pensar dói, pensar é triste
Como triste é estar cansada, cansada de estar cansada
Cansada de acordar, cansada de precisar de dormir
Cansada de não aprender nada na escola
De gastar tempo em nada, e em nada gastar a energia
Que queria ter quando me sinto cansada,
Cansada de perder a inspiração em trivialidades,
E no fátuo da vida gastar as emoções, as sensações
Sem na verdade as sentir, saborear, guardar...
Cansada até da música. Eu, da música!
A mesma música que de cor sei, pobre e rotineira,
Mas, principalmente, cansada por não procurar nova
Por não o fazer, e deixar ir, dia após dia, igual,
Triste, profundamente triste. Eu...
Desiludida com a vida, também, e não, não é do tempo
Espera interminável por que algo aconteça
Há relógios que não funcionam se não lhes dermos à corda
Mas este, este está avariado quase sempre
Roda, roda, e aqui estamos nós de novo
Paredes brancas, no teclado, o ‘a’ seguido do ‘s’ e do ‘d’...
Imortalidade, não, não, frustração
Os que estão destinados ao sucesso, acredito,
São os que melhor conhecem o fracasso...
E faço-o tudo bem, menos ser feliz. Não faz sentido!
Esta perfeição tão perfeitamente imperfeita
Que é viver nos padrões do impossível
E um dia seremos só nós os dois a discutir filosofia
E a literatura toda do mundo será a nossa base
E a conclusão será a mesma a que chegámos hoje
No fim de tudo, não há o bem nem o mal
No fim de tudo há a morte e nenhuma eternidade
Não para nós, nem para os que ficam
E as palavras serão lixo, e sabes que mais?
Eu ainda gostarei delas, porque eu gosto mais delas
Do que gosto de ti
Afinal, passei mais horas com elas do que contigo,
Dei-lhes mais da minha alma, do que te dei a ti,
E sonhei mais vezes com elas, do que sonho contigo
E se esta é a minha verdadeira paixão,
Sinto-me uma traidora, fingidora, mentirosa
Não há um para sempre, bem sei,
Mas um ‘até que a morte nos separe’
Não contigo, lamento-o, mas com as palavras
Gosto demasiado da liberdade que elas me dão
Poder ser eu e tu e o mundo, ao mesmo tempo
Poder ser quem eu quiser, onde eu quiser
Poder ser tristeza e lágrimas, e alegria e sorrisos
Ah, poder ser felicidade!
E o fim é mais belo assim, porque eu sou pó
Ao pó voltarei, mas elas não
E a fé está no sonho de que o romance não vá
Não se perca, se descubra, se sinta
Como um dia eu o senti
E serei egoísta só até então, compreende
Não posso voar com a nuvens e conhecer o mundo
Há correntes fortes demais para se partirem
Tu não me podes dar isso, jamais
Apenas eu, eu sozinha, eu comigo, perdoa-me
Também há caminhos estreitos demais
E não serei guiada, e não levarei ninguém atrás
Responsável só por mim, porque sei que vou cair
Outra e outra e outra vez
Só as minhas feridas eu posso curar, lamento
A magia é um ingrediente exclusivo das histórias
E eu não faço milagres, não sou assim tão boa
Não, não sou assim tão boa
Não sou como os outros dizem, não sou sequer
Como tu dizes. Não sou nada. Apenas sou
E sou de várias maneiras, desdobrável
Não sou o que mostra o reflexo no espelho
Nem sou o que dizem as minhas palavras
Antes sou todas as minhas palavras
E a cada noite que cai, apenas uma coisa se mantém
Imutáveis, as quatro paredes brancas
E eu, aqui, só com o mundo
Esse, que mal sabe que eu existo
Nunca o vi olhar para mim...
De facto, eu nunca encontrei o seu olhar,
Não sei de que cor são os seus olhos
Talvez ele não exista de todo, outra ilusão
Um sonho dentro de um sonho. Ou pesadelo?
Não sei, depende se fizer Sol amanhã
Agora, não há luz. A minha alma está apagada,
Cansada de ser onde não se pode ser
Cansada de dramas e tragédias, mas, sabes,
Continua a odiar comédias...
E o romance? Fica para a ficção, pecado insano
De quem, simplesmente, não sabe viver
Admito, sou culpada, tão culpada!
Lamentando pelo erro meio feito
Desculpando-se pelo que não pode mudar
Haja Lua no céu, música nos meus ouvidos
Uma caneta na minha mão, ou teclas sob os dedos,
Rode o mundo e caiam as estrelas
Há sempre um pedaço de nós que permanece
Como o arco-íris depois da chuva
E nós permanecemos nele, e ainda somos nós
Por isso todas as noites, conta o relógio,
É meia-noite e eu estou acordada
Uma
E um quarto

Raquel Martinez Neves
11-Jan-10