Um Dia


Um Dia



“Um dia”, disse ele.

Ela cruzou os braços

E fitou-o aborrecida

“Um dia quando?”

“Um dia...”

“Um dia é muito tempo.”

“Um dia é só um dia.”

“Não é não.

Não quando não sabes

Que dia é.”


“Um dia é amanhã

É o Sol a rasgar o horizonte

No berço da madrugada.

São vinte e quadro voltas

Do ponteiro do relógio.

É uma rotação.”

“É uma decepção.


Um dia é o incerto

O abismo entre o hoje

E o amanhã.

É uma espera tortuosa

Uma canseira vagarosa

Por um futuro a chegar.”

“É esperança no acordar.


Abrir os olhos e sorrir,

Acreditar em conseguir.”

“Quando?”

“Um dia é preparação.”

“Antecipação.”

“Um dia é o momento certo.”

“É Desespero.”


“Um dia é breve

Vai e vem a correr

Como a brisa do mar.

Um dia é singelo,

Único a desfrutar.”

“Um dia é aproximação

Da hora da condenação.”


“Um dia é tudo.”

“Um dia não é nada.”

“É tudo o que temos

Um dia não volta atrás.”

“Quero mais que isso.”

“É a hora em que vivemos.”

“Vivo à espera.”


“E de que esperas,

Senão de que o futuro

Se transforme em presente?

Mas repara, o teu futuro de ontem

Já é o teu presente...

De que esperas

Para vivê-lo?”



Raquel Martinez Neves

22-Mar-10

Roleta


Roleta


Ténue consciência

Um grito de guerra

Não!

Convenções caladas

Na palma da mão


Suspiro sem voz

Sentido veloz

Caiado de branco

Um espanto!

Quebra o encanto


Quem sabe?

Nós?

O quê? Porquê?

Assim, na vida

Alma perdida


E escreve de noite

Desce o Sol

De mansinho

Faz-se escuro

Devagarinho


E não sei

Simplesmente não

Sei... sei?

O que queres?

Para que me queres?


Roleta, ou ciclo

Ou bicicleta

Parada, na estrada

Encravada

No cimo da escada


E palavras são

Letras...

Abecedário baralhado

Com significados

E predicados


Nadas de nada

Na corrente de quem?

Para onde te levo

Para onde me levo

Não sabe ninguém


Isto não é um fim

Poemas não têm fim

Histórias não têm fim

Nem para ti

Nem para mim



Raquel Martinez Neves

12-Mar-10